Eu amo Itaquera

Formadores de opinião, empresários, líderes comunitários e políticos expressam suas ideias, soluções e projetos para o bairro, nesta e nas próximas edições

A equipe do Jornal Desenvolve Itaquera, com o apoio da Câmara dos Dirigentes Lojistas de Itaquera e do Núcleo de Desenvolvimento de Itaquera, entrou em contato com várias pessoas para saber o que elas pensam da região. A reportagem fez as mesmas perguntas para todos. Hoje, quais os maiores problemas que Itaquera enfrenta? Então, quais soluções você apontaria? E como os secretários municipais, vereadores, prefeito e prefeito regional deveriam olhar para Itaquera, já que o bairro abrigou uma Copa do Mundo e ficou uma série de projetos inacabados, ou que não saíram do papel, e que continuam a deixar uma lacuna enorme no bairro?
GABRIEL OLIVEIRA – LÍDER COMUNITÁRIO
O maior problema são as podas das árvores, a falta do corte de mato e o asfalto (tudo). A solução? Solicitar equipes de outras prefeituras e fazer um mutirão urgente. Quanto ao prefeito e demais, deveriam olhar muito mais por Itaquera. Além de sediar a Copa do Mundo, ainda tivemos os projetos todos cancelados e ainda temos a questão do incentivo fiscal, que é complicado, uma vez que não temos a quem recorrer para explicações. Falta muito para Itaquera ser um ‘Bairro Lindo’. Não tenho nada contra ninguém, mas falta colocar pessoas preparadas dentro da Prefeitura, que realmente saibam o que estão fazendo. Deixo aqui um abraço ao coronel Paulo Cesar Maximo, ao Dr. Roberto Tamura, que souberam administrar Itaquera como ninguém.
JOÃO JORGE – VEREADOR
Itaquera é um grande bairro. É o maior territorialmente em se falando de bairro da Zona Leste. Isso é visível quando você pega o mapa. Ao mesmo tempo, ele está concentrado bem no meio de toda a malha de bairros da Zona Leste. Relacionado ao fundão, extremo, está perto de grandes cidades do ABC. Então você tem 15 quilômetros de cidades, como Mauá, Santo André, entre outras. Tem uma importância muito grande devido à Avenida Jacu-Pêssego, que faz essa ligação com a Marginal, Rodoanel e etc. Assim como todo grande bairro, ele tem grandes problemas relacionados à parte de zeladoria. E tem o maior parque da Zona Leste, que é o Parque do Carmo. Eu avalio que a grande dificuldade que se tem é justamente relacionada a como você potencializar o bairro pelo tamanho e grandiosidade que ele tem.
Existe um projeto de Itaquera para vir o fórum para perto do metrô. Então, assim, Itaquera estará pronta para avançar sem dúvida alguma. A Copa do Mundo trouxe grandes desafios também, mas tem esses projetos inacabados que precisam de criatividade para poder avançar ainda mais. Por outro lado, a gente tem grandes empresas no bairro, como dois shoppings e o próprio estádio do Itaquerão. Tem que ter um grande trabalho de articulação, na verdade. Itaquera é, da Zona Leste inteira, eu acredito, o maior bairro com o potencial de crescimento. Tem grandes áreas que dão para serem ocupadas. O próprio entorno do Metrô Itaquera é um exemplo grande disso, de espaço a ser ocupado e disponibilizado. O prefeito recentemente trouxe a Atento para esse espaço.
No meu modo de vista, eu acho que, o que o prefeito João Doria tem feito com relação às parcerias público-privadas, é, sem dúvida alguma, uma grande chave de ferramenta para a evolução do bairro. É um bairro extremamente importante e muito grande. Também tem ali o maior conjunto habitacional da cidade, que é o Conjunto José Bonifácio, e assim é um bairro dormitório, mas que tem o potencial para não ser tão dormitório. Tem potencial para crescimento. Eu acho que o Polo de Desenvolvimento da Zona Leste Itaquera está no eixo principal.
PADRE ROSALVINO – OBRA SOCIAL DOM BOSCO
Num bairro como o de Itaquera, que é maior do que a cidade de São José dos Campos, que fica no interior de São Paulo, sabe-se que se tem muito a ser feito, pois a cada dia aprecem diversas demandas, as quais, muitas vezes, estão fora de um planejamento, visto que a cidade tem 464 anos. Na minha porta (Obra Social Dom Bosco – Rua Álvaro de Mendonça, 456, em Itaquera) bate muita gente com diversas solicitações, as quais nós escutamos e, ao meu pessoal do social, são encaminhadas para uma ajuda.
Os problemas que a nossa população destaca são os seguintes: 1 – Demora no atendimento nos hospitais e postos de saúde públicos; 2 – Depósito de lixo nas calçadas pela população; 3 – Roubo de carro e furto diversos; 4 – O córrego Rio Verde que inunda o seu entorno quando chove; 5 – Falta de emprego, entre outros.
Na minha opinião, a saída é fazer um planejamento, em vista dos problemas do bairro, e buscar outras instâncias públicas para se obter soluções e recursos financeiros. Além da conscientização da população, ao que se refere ao lixo, e possibilitar a retirada de lixo, e também se trabalhar a questão da reciclagem.
Quando Itaquera recebeu a Copa do Mundo, isso no ano de 2014, muitas coisas foram prometidas. Principalmente a vinda de empresas, com o intuito de geração de empregos. Mas ainda não se conseguiu uma porcentagem, mediante a população, que resolvesse a situação do desemprego. Com a Copa, o bairro de Itaquera teve sua visibilidade mediante os meios de comunicação, mas que fica hoje só no estádio do Corinthians. É de se destacar ainda que, uma grande melhoria para Itaquera, foram as construções de pontes e viadutos (próximos ao estádio), que melhoraram a locomoção de toda a população.
ALESSANDRO GUEDES – VEREADOR
1 – Necessidade de piscinão para reter as águas pluviais do córrego Rio Verde e demais afluentes: já conseguimos emenda parlamentar no valor de 2.000.000,00 para a elaboração do projeto. Após este passo, propor no orçamento municipal o valor para a execução do projeto executivo.
2 – Sede da prefeitura regional em local inadequado: já propomos no orçamento do município recurso para construção da nova sede em área própria da Prefeitura, no centro de Itaquera. O prefeito precisa acatar a proposta.
3 – Trânsito caótico na região da Rua Agrimensor Sugaya e da Rua Harry Dannemberg: o executivo precisa aprovar a construção de binários nas duas regiões.
4 – Mato alto e muitos buracos nas vias: aumento imediato nas equipes de zeladoria.
5 – Poucos empregos no bairro: interação urgente da secretaria do Trabalho com as empresas locais e entidades representativas das mesmas, para novas parcerias e, consequentemente, novos empregos através da Lei de Incentivos Fiscais da Prefeitura de São Paulo.
6 – Regularização fundiária: ações integradas de secretarias da Prefeitura com Ministério Público, Defensoria Pública e demais órgãos necessários, com o objetivo de propor TAC para a regularização de diversas comunidades no nosso bairro, com grande necessidade de infraestrutura.
Tanto os secretários municipais, vereadores, prefeito e prefeito regional devem estreitar a relação com a sociedade local, ouvindo as demandas. Buscar parcerias com a iniciativa privada nas adoções de áreas públicas e influenciar no orçamento municipal para um maior investimento no bairro.
EDUARDO MELLO – FORMADOR DE OPINIÃO
Saúde. Hoje nós temos dois hospitais para quase 500 mil habitantes de Itaquera, Cidade Líder, Parque do Carmo e Conjunto José Bonifácio. O Valdomiro de Paula, que é o Hospital Planalto, o Santa Marcelina, referência, e também a UPA, que funciona próxima ao estádio do Corinthians. Qual a solução? Investir mais nos postos de saúde com o pessoal que já se tem. Mas infelizmente estão fazendo um processo que a gente não vê isso. Algumas unidades já estão sendo administradas pelo Santa Marcelina. O que, na minha opinião, ocasiona um inchaço na folha de pagamento para uma pessoa terceirizada. Se você chegar hoje, dentro das unidades operadas pelo Santa Marcelina, vai constatar que o recurso de elemento humano é bem maior do que o que está sendo administrado pela pró- pria Prefeitura, sem esta parceria.
Fiquei sabendo também que o CAPs Infantil, que fica dentro do Conjunto José Bonifácio, já está sendo administrado pelo Santa Marcelina, e que em setembro, também vai ser passado o CAPs Adulto para a sua gestão. Não tem uma logística nisso, na minha opinião. Você pega a folha de pagamento, de um gestor do Boni III, por exemplo, e vê quanto ele recebe, e quanto que recebe o gestor do Boni II. Um da Prefeitura, e outro também da Prefeitura, mas administrado pelo Santa Marcelina, que no caso é o Boni III. Você começa a ver a discrepância por aí. Quanto mais gente eles colocarem, mais eles vão receber. E a gente não vê isso dentro dos serviços da Prefeitura. Agora vi que as AMAs serão integradas. Não sei. Vamos ver o que esta gestão vai fazer.
Transporte. Falta integração. Para quem está de carro, o Conjunto José Bonifácio virou rota de fuga dos bairros. Principalmente para quem vem de Itaquá, Poá, Suzano, Ferraz, Guaianases, para sair na Radialzinha. Dentro de Itaquera, o transporte não está cem por centro. Já discuti em algumas reuniões de se fazer uma integração através de carros circulares, principalmente dentro do Bonifácio, onde metade dos itaquerenses residem, para acessar o trem e o Metrô. Principalmente com as estações Dom Bosco e José Bonifácio. E, pra mim, o terminal do centro de Itaquera já está inviável. Você tem o 4310, que faz a linha Itaquera até o Parque Dom Pedro, e as outras três ou quatro que fazem a distribuição para os bairros. Poderia-se fazer uma distribuição maior com acesso ao Metrô.
Lazer. O Sesc é restrito a algumas pessoas e o Parque do Carmo atualmente está fechado por conta da febre amarela. O Parque Raul Seixas, no Bonifácio, tem uma área de lazer de 1980. Creio que a administração já deva ter visto isso, mas por falta de recursos e vontade política, infelizmente nada é feito. Temos a Praça Brasil, que há vários fins de semana está lotada de jovens, mas não há nenhum tipo de espaço cultural relacionado à Prefeitura, para eles. Não sei como o pessoal da Prefeitura Regional Itaquera não enxerga isso. Tem ainda o Planetário e o Parque Linear, sendo que neste último não se vê incentivo de nada. O Parque Marisa e o Aquário são pagos. E temos um teatro, mas que fica dentro da Casa do Cristo Redentor.
Educação. As escolas públicas ainda estão sucateadas, mas até que deu uma melhorada. Precisa tirar do papel a obra do Senai, que vai ficar perto da Fatec. Ela foi assinada na última gestão do Haddad, mas até agora, nada. Também falam tanto do polo institucional, mas que também nunca sai do papel.
Segurança. Está ligada com a zeladoria. Desde o começo desta gestão os espaços verdes estão abandonados. Toda hora eles pedem para fazer mutirão. Mas não é bem assim. Perto das estações Dom Bosco e Bonifácio há muitos furtos porque o mato está tão alto que encobre tudo.
Os vereadores precisam olhar com mais carinho para Itaquera. Mas eles só vêm aqui pegar os nossos votos. Aí entram as questões de interesse. Você vê, na Rua Antonio Crespo, perto da estação, o mato está cobrindo tudo. Falam que não fazem a zeladoria porque não tem ninguém. Aí, do nada, por conta de uma inauguração no Buraco do Sapo, de uma quadra, todo o mato do entorno é cortado, não dá para entender. Outra informação que tive acesso é que o canal para protocolar os pedidos na Prefeitura foi extinto. Então aí fica difícil.
FRAN KAUÊ – PROJETO SOCIAL AEC KAUÊ
Itaquera é formado por 4 subdistritos, maior que muitas cidades que compõem nosso Estado. Não podemos apenas falar de Itaquera, mas temos que lembrar que ela é composta pelo Parque do Carmo, a Cidade Líder e o Conjunto José Bonifácio.
Somos quase 1 milhão de moradores e, como qualquer bairro da periferia, nos falta principalmente atenção por parte do poder público. Existem problemas que já fazem parte do patrimônio histórico de Itaquera. Eu mesmo, quando adolescente, cansei de entrar nas casas de amigos e retirar pessoas de lá por conta das enchentes do Rio Verde. Essas pessoas perdiam seus móveis, seus documentos e, principalmente, sua dignidade.
Hoje vejo meu filho, de 22 anos, fazendo o que eu fazia há décadas. É triste ver que entra gestão e sai gestão e ninguém resolve essa situação que acaba não apenas com os móveis dos moradores, mas também com as mercadorias de muitos comerciantes. Meu filho me disse outro dia: “Pai, será que o meu filho vai continuar fazendo a mesma coisa que você fez e que hoje eu faço junto com você?” Há diversos problemas na região, porém acredito que o maior de todos seja a questão do Rio Verde, que corta Itaquera de ponta a ponta. Hoje, por falta de iniciativa ou cobrança, estamos ameaçados pelo surto de febre amarela. O Parque do Carmo está fechado e sem data para reabrir. Estamos em ano de eleições e qualquer candidato que deseja chegar ao governo do Estado precisa olhar para Itaquera e refletir sobre os problemas que convivemos. É preciso assumir o compromisso não apenas da boca pra fora, mas sim, assinar um termo de compromisso e registrar em cartório. Tem muita gente sofrendo com a falta de serviços médicos com qualidade, com as ruas esburacadas, com a questão da limpeza de praças e parques, e isso infelizmente tem que vir de cima pra baixo, do alto escalão da Prefeitura ou do Governo do Estado, fazendo chegar à Prefeitura Regional o mínimo de condições para que o gestor local possa administrar com qualidade. Muitos contratos demoraram para serem renovados e tantos outros foram cancelados. É preciso mais ação, mais cobrança, mais comprometimento de ambos os lados.
O grande problema de Itaquera é representatividade. Temos um colégio eleitoral com mais de 300 mil eleitores e não conseguimos eleger sequer um vereador do bairro. Quem dirá um deputado estadual ou federal. Enquanto Itaquera for vista como “terra de ninguém”, quem pagará a conta pela falta de recursos para o bairro são os próprios moradores. Eu estudo política, amo essa matéria, me interesso e arregaço as mangas em tudo que envolve o nome do bairro, porém há coisas que “só força de vontade e proatividade não são capazes de resolver. Sempre fui muito amigo de qualquer gestor regional, me coloco à disposição para ajudar e colaborar com ideias. Porém vejo que muitas vezes a questão partidária acaba atrapalhando. Muitas pessoas acham que é interesse político, quando na verdade é apenas paixão pelo bairro e vontade de querer ajudar. Sou da opinião que o munícipe tem obrigação de ajudar, de fazer parte, de opinar e, principalmente, questionar quem está no comando dos interesses locais.
Tivemos dois megaeventos que passaram por Itaquera. Falaram muito e prometeram tanto que pensei que após a Copa do Mundo e a Olimpíada eu moraria em um novo Morumbi. Porém a grande maioria das obras já fazia parte do plano diretor lá do início do ano 2002, e que foi apenas modificado uma coisinha aqui e outra ali.
Estive em diversas reuniões e ouvi muito se falar da questão da contra partida para Itaquera devido à Copa do Mundo e do estádio do Corinthians. Falaram em R$ 12.000.000 (doze milhões de reais) que seriam investidos em projetos comunitários aqui no bairro. Porém, a Copa do Mundo passou e até agora não sei onde e como foi aplicado esse dinheiro. Hoje nós temos o Dr. Jacinto como prefeito regional, que está sendo muito criticado por ser do bairro e até agora não conseguiu mostrar serviço. Porém vale lembrar que qualquer administrador local nada mais é que um porta-voz da comunidade, um representante local junto à esfera maior que é o prefeito da cidade.
Eu, no lugar do Dr. Jacinto, como primeira ação, teria montado um Conselho Local Participativo, ou seja, reuniria um grupo formado por umas 15 pessoas atuantes na região, conhecedoras dos problemas do bairro, e juntos, desenvolveria ações em conjunto com este conselho. Dificilmente conseguimos cobrar alguma coisa se estamos sozinhos. A formação desse conselho serviria para mostrar força junto ao prefeito João Doria, cobrar investimentos e, principalmente, compromisso com um dos maiores bairros da cidade de São Paulo. Talvez ainda haja tempo para isso, afinal o prefeito quer ser governador e este é o momento de firmar compromisso e cobrar ações.

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