No dia 6 de novembro, o bairro comemora mais um aniversário. São 333 anos de muitas histórias e conquistas. E quem está há mais tempo na região sabe que, de uns anos pra cá, Itaquera cresceu e ganhou mais espaço na grande mídia, teve uma ascensão no setor da construção civil, e que as ações em prol do bairro estão ganhando cada vez mais força.
O setor de serviços também está ampliando suas ofertas, assim como o do comércio. Estabelecimentos de ensino e de saúde estão apostando na região e, aos poucos, Itaquera caminha para deixar de ser um bairro dormitório.
Sabemos que é preciso muito mais, mas não podemos deixar de lado que o crescimento, por mais gradativo que seja, está acontecendo. Além disso, muitos sabem da sua posição estratégica ao contar com várias conexões importantes.
CLIMA AGRADÁVEL E ATRATIVO
Itaquera nem sempre foi agitada como vimos nos dias de hoje. Era um local bucólico e com muitas áreas verdes que atraiam as famílias mais abastadas de São Paulo. Elas construíam grandes palacetes e aqui desfrutavam do descanso em meio a muito contato com a natureza.
E, neste sentido, não podemos deixar de citar o valioso trabalho histórico do “Saudosa Itaquera”. Em sua página do Facebook podem ser vistas inúmeras fotos que mantêm viva a história do bairro.
Entre as construções está a foto do antigo casarão localizado ao lado da estação Dom Bosco. Na altura do número 1.100 da Rua Sabbado D’Angelo, seu amplo terreno parece ter sido uma chácara. Trata-se de uma das primeiras construções do século 20.
Outra passagem destaca o poderoso empresário do ramo do tabaco, Sabbado D`Angelo. Ele fez fortuna criando uma das mais célebres e notórias indústrias brasileiras de cigarro, a Sudan.
Seus cigarros eram dos mais consumidos na São Paulo antiga e algumas de suas marcas eram sinônimos de enorme sucesso de vendas, como o “Diamante Negro”, que homenageava o então jogador Leônidas, cujas embalagens hoje são disputadas a tapa por colecionadores.
Registro também para a passagem de Roberto Carlos por Itaquera. Na foto registrada, o cantor está ao lado do itaquerense Dokinha, um dia antes da sua apresentação no Elite, no ano de 1968.
E tem mais registros importantes. Como da Pedreira de Itaquera e seu acesso pela Estrada de Itaquera, da Praça de Itaquera, do Hotel Itaquera que ficava na Rua Flores do Piauí, da Paróquia Nossa Senhora do Carmo, fundada em 1928, do primeiro e único cinema de Itaquera, da Maria-Fumaça, entre outros.
É um trabalho que vale a pena ser divulgado e incentivado.
SOB O OLHAR DE UM ITAQUERENSE
Para comemorar a passagem de mais um aniversário, a
reportagem convidou o itaquerense Rafael Fernandes para reviver parte da
trajetória do bairro.
Professor de História e Sociologia na escola Professora Emília de Paiva Meira,
e Historiador de Itaquera, a partir de novembro Rafael irá assinar uma coluna no
Jornal Desenvolve Itaquera. A cada
edição os nossos leitores terão acesso a mais informações, curiosidades, fatos e
momentos que se eternizaram.
A DATA DE FUNDAÇÃO
Até o século XVII não existia nenhum registro sobre qualquer
atividade desenvolvida na região que hoje chamamos de Itaquera.
Só em 1686 aparece a primeira referência sobre a “Roça Itaquera”
(Ita=pedra e quera=dura), localizada nas proximidades da Aldeia de São Miguel.
“Estamos falando da doação de terras do Rei de Portugal, prática esta conhecida
como Carta de Sesmaria”, observou o professor.
Uma segunda referência sobre a região foi no ano de 1820, onde havia um
simples e precário rancho conhecido como “Casa Pintada”. Ali os viajantes
paravam para descansar e reabastecer-se das provisões.
Mas o desenvolvimento da região só começou de fato a partir da inauguração, no
dia 6 de novembro de 1875, da Estação Ferroviária de Itaquera.
“Esta arquitetura, que infelizmente não existe mais, foi construída por portugueses,
húngaros e brasileiros. A data da sua entrega acabou sendo escolhida pela
comunidade como sendo a do aniversário do bairro.”
No fim do século XIX, a estação de Itaquera recebeu a sua primeira
“Maria-Fumaça” pela então antiga Estrada de Ferro do Norte. Neste período teve início ao mesmo tempo a era
do automóvel, seguida depois pelo motor a diesel, à explosão, à manivela, à
eletricidade e a vapor.
O INÍCIO DOS LOTEAMENTOS
Em 1890, duas personalidades sociais e políticas vieram para
Itaquera e adquiriram grandes extensões de terra. Uma foi o dr. Rodrigo Pereira
Barreto, fazendeiro em Ribeirão Preto e Sertãozinho, que aqui comprou as suas
terras; e a outra foi o dr. Francisco Gentil de Assis Moura.
“Juiz comissário da capital, mediante procuração em causa própria, adquiriu as
terras de Geraldo Marcondes de Abreu. Assim surgia o núcleo residencial do
bairro, a partir da criação das vilas Santana e Cristianópolis.”
No ano de 1919, o coronel Bento Pires de Campos adquiriu a Fazenda do Carmo da
junta Carmelitana de Petrópolis e iniciou o grande loteamento dividido entre a
Vila Carmosina e a chamada Organização Agrícola, que passou a denominar-se
Colônia Japonesa.
“O tempo foi passando e, com o avanço e implantação da Revolução Industrial e de
todas as mudanças surgidas com o transporte, a expansão das vilas e o desenvolvimento
da infraestrutura, Itaquera ganhou o impulso necessário para se firmar como uma
das regiões mais importantes da Zona Leste”, explicou o professor.
AS FASES DE ITAQUERA
É neste momento que a estação de trem passa a ter uma
importância ainda maior. Ela serviu principalmente para o escoamento da produção
agrícola que abastecia cidades do litoral e do interior, assim como outros
Estados.
“Por conta das pedras retiradas das pedreiras que deram o nome ao bairro, o
material foi muito utilizado na construção de importantes edifícios de São
Paulo. Entre as obras está a Catedral da Sé.”
Depois Itaquera passou para uma nova etapa. “O que costumamos chamar de segunda
fase de Itaquera é o período pós-estação, onde os moradores das regiões
centrais da cidade adquiriam terras no bairro para construírem as suas casas de
veraneio. Isso por conta do clima agradável da região.”
Já a terceira fase, segundo Rafael Fernandes, teve início a partir da década de
1980, após as construções dos conjuntos habitacionais, conhecidos como Cohabs.
“Com a chegada de um número grande de moradores, a cidade cresceu muito
rapidamente, assim como o comércio que precisava atender a população local. Durante
muito tempo, as pessoas utilizavam o bairro como dormitório, ou seja,
trabalhavam nas regiões centrais e vinham para casa dormir. Porém, com a grande
concentração de pessoas que precisavam se deslocar para os seus trabalhos, as
viagens até as regiões centrais duravam cerca de duas horas ou mais. Então, em
outubro de 1988, aconteceu a inauguração da estação de metrô Corinthians-Itaquera.
Até então a linha 3-Vermelha só chegava até a Penha.”
EM BUSCA DE CULTURA E LAZER
Itaquera durante muitos anos caminhou de forma tímida no cenário cultural e de lazer. Segundo Rafael, as pessoas procuravam se locomover para as regiões centrais quando queriam ter acesso a qualquer tipo de lazer, como teatros, cinemas, shoppings, parques e, principalmente, para trabalhar.
“Hoje o bairro consegue suprir várias destas demandas, pois vem crescendo cada vez mais e se desenvolvendo culturalmente e economicamente. Mas ainda há um bom caminho pela frente até que todas as demandas sejam sanadas ou, pelo menos, encaminhadas pelos governos para uma solução.”
Em 2014, Itaquera passou a ser conhecida mundialmente através da Arena Corinthians, por ter sido sede da abertura da Copa do Mundo.
“Mas não é só isso que o bairro tem. Vale destacar que Itaquera tem diversos centros comunitários, bibliotecas públicas, a Oficina Cultural Alfredo Volpi e a Casa da Memória (antiga casa do chefe da estação de trem) que se tornou patrimônio histórico da região e foi tombada junto com o edifício onde hoje funciona a Biblioteca Sérgio Buarque de Holanda.”
Há ainda o Sesc Itaquera, o Parque do Carmo (um dos maiores do Brasil), o Planetário do Carmo, um parque de diversões, um shopping, um aquário, empresas de grande porte instaladas e um grande comércio. “Ou seja: Itaquera cresceu e vai crescer muito mais!”, finalizou Rafael Fernandes.
DAS OLARIAS AO COMÉRCIO DE RUA
Para entender o que acontece hoje é importante compreender parte da história. Itaquera também foi morada de muitos imigrantes que fizeram a diferença para que a região se tornasse o que é hoje.
O comércio do centro de Itaquera começou a se formar com a inauguração da estação de trem. Construída no mesmo local que hoje abriga a Praça da Estação, como já dissemos, ela ajudou no transporte dos produtos produzidos na região.
Não somente os agricultores, mas outros comerciantes se utilizavam dos vagões dos trens que por Itaquera passavam. Caso dos donos das olarias que existiam às margens do rio Jacu, hoje endereço da Avenida Jacu-Pêssego.
“Por volta de 1890 meu avô se instalou em Itaquera e se dedicou ao ramo de olaria. Os tijolos eram transportados nos trens até o Brás e de lá ele fazia a distribuição para a construção de prédios comerciais. Inclusive, muitos dos nossos tijolos (tipo 88) ajudaram a erguer a Catedral da Sé”, apontou Francisco Gianetti Neto.
De acordo com o empreendedor, eram muitas olarias. “Elas começavam próximas ao centro de Itaquera e seguiam as margens do rio Jacu. A família trabalhou nisso até o ano de 1972, quando mudamos para a fabricação de blocos e lajes. Depois veio o progresso com a Avenida Jacu-Pêssego e demos sequência com materiais de construção e uma madeireira.”
A região foi crescendo, se transformando e, graças também à Cohab II, hoje são mais de 40 mil famílias morando na região. “Vieram mais comércios, o que foi muito bom. Resultado: hoje aqui tem de tudo. Mercados grandes, lojas e até um shopping! Quem poderia imaginar?”, completou Francisco Gianetti Neto.
MODERNIZAÇÃO PARA ATENDER A DEMANDA
Das lojas rústicas e antigas à modernidade dos novos tempos. Todos tiveram que se adaptar às transformações do mercado. E, na Rua Fontoura Xavier, assim como em outros endereços, é possível entender este cenário.
Saindo um pouco da região central, ruas como a São Teodoro e a Sábado D’Angelo também exercem papel importante na geração de emprego e renda.
São escolas, redes de serviços automotivos, lojas de roupas, calçados, distribuidoras, bares, restaurantes, padarias, pet shop e muito mais.
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