Moradores em perigo

Por: Dario Vasconcelos

Avenida Líder com obra inacabada do corredor Leste Itaquera

A obra do corredor Leste-Itaquera, abandonada há alguns anos, já é um problema para os moradores da região há muito tempo. Não bastasse o embargo que a  construção sofreu pelo Tribunal de Contas do Município (TCM), por denúncia de possíveis irregularidade no processo licitatório, agora o equipamento viário se tornou um local perigoso para pedestres e motoristas.

Isso porque o entulho que sobrou desta obra, que já foi alvo de outras matérias desse jornal, tem sido usado como esconderijo e para prática constante de assaltos. Os atos ocorrem geralmente no período da noite quando o movimento da avenida diminui, como explicou o autônimo Luiz Felippe Santos Anacleto, que é morador da região e vítima dos bandidos.

“De noite a avenida fica menos movimentada e, com isso, a obra abandonada do corredor facilita a ação deles, além de servir como rota de fuga também. Quando fui surpreendido por um bandido armado já passava das oito da noite”, disse o jovem de 23 anos.

Assaltos pela região

De acordo com estudos da Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo, apenas em 2020, cerca de 219.839 boletins de ocorrência foram lavrados para roubos na capital. Além disso, em 2021, é possível aferir que 27,7% das vítimas desses roubos foram transeuntes como Luiz.

O assalto de Luiz aconteceu em 2020, na Avenida Líder, altura do número 1930, próximo ao supermercado Extra da Cidade Líder. Para Anacleto, o ataque sofrido tem relação direta com o fato de que perto dali localiza-se a Praça Francisco Daniel Lopes, aonde existe o desvio do trânsito por conta da obra inacabada.

O jovem voltava para casa acompanhado de um amigo e conversavam despreocupadamente quando foram surpreendidos pelo homem. As vítimas seguiram a recomendação de segurança de não reagir, uma vez que o assaltante portava uma arma de fogo fazendo mira para a dupla.

Como consequência do assalto, Luiz teve seus pertences roubados – com exceção do smartpfone que ficou escondido – e, acertadamente, acionou o policiamento local após sentir-se seguro.

Um assalto por si só já é uma situação difícil de ser superada, quando há desdobramentos negativos o quadro de pressão psicológica agrava. Segundo o autônomo, nos dias que sucederam ao assalto ele recebeu diversas ligações do mesmo bandido.

“O tom da conversa sempre foi ameaçador e o assaltante alegava ter feito meu amigo de refém. Fiquei receoso de sair de casa e sofri com a pressão psicológica que eles fizeram sobre mim”, destacou Anacleto.

Promessa não cumprida

O corredor Leste-Itaquera foi projetado em 2013 com a promessa de ser entregue para a Copa do Mundo de 2014, e custaria aos cofres públicos municipais e federais R$ 225 milhões.

O equipamento atenderia a população da Zona Leste da capital paulistana com 14 quilômetros de via exclusiva para os ônibus. Além disso, seria um importante ponto de ligação entre as Avenidas Itaquera, Líder e Jacu-Pêssego. O final da obra, que tinha previsão para 36 meses, não ocorreu até o momento e continua sem nova previsão de término.

Atualmente apenas o trecho da Rua Henry Dannemberg até o local onde encontra-se o que restou do canteiro de obras, já no encontro com a Avenida Líder, está liberado para os ônibus.

Entretanto, nem o compromisso da seleção brasileira de trazer o hexa campeonato mundial, em 2014, tampouco a ideia inicial da Prefeitura de São Paulo de construir 72 novos quilômetros de corredor de ônibus pela cidade, até 2020, foram alcançados.

Os imbróglios judiciais que impediram a execução da obra, agora violam a liberdade individual de munícipes como Luiz e seu amigo. O morador da região relembra que nunca havia sofrido qualquer tentativa de assalto ou algo parecido e a sensação de insegurança que restou é traumática.

“Levaram todos os meus pertences e nós sabemos como é difícil perder um dia de trabalho pra refazer os documentos. Ainda tentei negociar com o ladrão e pedi pra ele me deixar pelo menos com o RG, mas não teve jeito e perdi absolutamente tudo, inclusive a paz”, finalizou o morador.

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