Por José Renato Nalini
Jurista, professor, escritor, magistrado
A Terra está enferma e nem todos se dão conta disso. É que os ouvidos para a ciência estão surdos e os olhos humanos não conseguem enxergar a tragédia que a insensatez causou ao planeta. Poucos são os que se motivam a alertar a consciência dos que se dizem racionais, quanto ao pavoroso porvir que nos espera, se nada for feito e com a urgência requerida.
Recentemente, mais de 250 organizações firmaram um documento com vistas a promover a “grande transição” em favor da sustentabilidade e da prosperidade global. O planeta está gravemente enfermo, com a doença da poluição, mudanças climáticas, desmatamento, degradação ambiental, extinção de espécies, perda da biodiversidade e as demais comorbidades causadas pelo bicho-homem.
O paradoxal é que a humanidade é, há um tempo, a vilã – a algoz do ambiente –, mas também a vítima e, de qualquer forma, a única alternativa para a solução. Só que não há mais tempo. Há quem sustente que o ponto de inflexão já passou. Mas sempre resta uma esperança. A declaração emitida é contundente, embora não tenha produzido o alarde que seria necessário: “Nós, a comunidade global de saúde planetária, emitimos o alarme de que a deterioração contínua dos sistemas naturais de nosso planeta é um perigo claro e presente para a saúde de todas as pessoas em todos os lugares”. Chamada “Declaração de São Paulo sobre Saúde Planetária”, foi redigida em conjunto pela USP e pela Planetary Health Alliance, consórcio internacional sediado na Faculdade de Saúde Pública de Harvard, com o apoio do PNUD, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento.
Tudo converge para um porvir tenebroso, se não se tomar providência séria, consistente e imediata. Ouvimos um pedido de socorro que ecoa, juntamente com tantos outros, em todo o globo. As mudanças climáticas, a perda da biodiversidade, a destruição da qualidade do ar, da água e do solo corroem os sistemas de suporte de vida fundamentais e dos quais todos os habitantes dependem. Não existe nenhuma possibilidade de proteger a saúde humana se não cuidarmos também – e primeiro – da saúde da Terra. Não é apenas reflorestar, apoiar a economia circular e a logística reversa. A mudança de curso é mais ambiciosa. Precisa ser um giro completo na forma como se vive na Terra: a grande transição. A exigir reformas estruturais que mudarão a maneira de produzir, consumir, construir e cuidar do ambiente natural. Não faltam leis. Elas até sobram. Falta é cumpri-las. Falta é um comportamento racional. Você está preparado para isso? Caso não esteja, é melhor modificar a forma de pensar e de agir, pois, nos próximos anos, é enorme a probabilidade de que algumas cidades do mundo fiquem em parte submersas. Outras ficarão cobertas pela areia ao se tornarem desertos. A responsabilidade é de cada um de nós e a nossa parte começa em casa, reduzindo, reciclando e reaproveitando.
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