Por Rafael Fernandes – Historiador de Itaquera e Professor de História e Sociologia na Escola Professora Emília de Paiva Meira
Esta semana eu conversei com Sérgio Toccacelli Cubells, zelador da Paróquia Nossa Senhora do Carmo desde 2004, que conhece a história do bairro e da paróquia como poucos. Sergio faz parte de uma família antiga da região e colaborou de forma essencial para a construção desta pesquisa.
A princípio, a igreja deveria ser construída em outro local, onde hoje fica a agência do banco Itaú, um pouco mais acima do Parque de Diversões Marisa. Porém, por conta da localização, vista privilegiada e, principalmente pelo desejo dos moradores, acabou sendo erguida no local em que está até hoje.
Em 1918 foi inaugurada a capela, que a essa altura não comportava mais os fiéis com o conforto necessário. Dessa forma, uma igreja maior foi necessária. A obra acabou sendo inaugurada em 1928, mesmo inacabada.
As terras que abrigam a igreja foram doadas através de Sesmarias (lotes de terras distribuídos a um beneficiário em nome do Rei de Portugal com o objetivo de cultivar terras virgens), aos padres Carmelitas.
Sérgio ainda me contou como cada um dos personagens históricos da região, como Américo Salvador Novelli, Coronel Francisco Rodrigues Seckler, Sabbado Dangelo, Miguel Mastrocolla, entre outros, contribuiu para a construção da igreja. O Coronel Bento Pires, por exemplo, doou para as freiras, onde hoje fica o colégio das pequenas irmãs da divina providência, a sua casa, que ainda existente no local.
Cheguei a comentar em outro artigo que foi Sabaddo Dangelo quem doou a imagem de Nossa Senhora do Carmo (que se encontra na paróquia até hoje). Mas acabei descobrindo que ele também importou da Itália os mármores do altar, da Rússia e da França os vidros, e mandou terminar o reboco da igreja para a então reinauguração, em 1933, com a obra já terminada.
Os fiéis da comunidade tiveram como primeiro pároco o Padre José Bibiano de Abreu, que também ficou responsável pela Igreja de Santana, que na época estava em construção na mesma região.
Quem atua há mais de 30 na paróquia é o Padre Paulo, muito conhecido e admirado por seu pensamento progressista e inclusivo, e principalmente pelo engajamento em questões sociais.
Em uma oportunidade, participei de um dos atos ecumênicos onde o pároco caminhou por algumas ruas do bairro juntamente com líderes de outras entidades religiosas, como pastores, pais e mães de santo.
Também estive em atividades com filósofas, como Marilena Chauí, que aceitou o convite do padre para palestrar na igreja. Lembro que na época fiquei encantado com o engajamento político de toda a comunidade da paróquia.
Quando eu era criança cheguei a frequentar a Ozem, uma entidade mantida através de parceria entre a igreja católica e a Prefeitura, que oferecia almoço, atividades e cursos para as crianças da região. O local não rejeitava crianças de outras entidades religiosas, como era o meu caso.
É inegável que a trajetória do bairro e da paróquia se misturam em diversos momentos, e impossível contar a história da região sem citar a contribuição da Igreja Nossa Senhora do Carmo. Por isso está em processo de criação de um livro com muitas informações e curiosidades sobre este local tão acolhedor.
Sei da importância de um livro como registro da nossa história, então espero que seja lançado em breve e que sirva de inspiração para muitas outras instituições (religiosas ou não). Afinal, um povo sem memória é um povo sem história.
Aproveitando a oportunidade, desejo um feliz 2020 a todos os nossos leitores e moradores desse bairro gigante e tão acolhedor.
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