No dia 15 de outubro, comemora-se o Dia do Professor. Na próxima década, mais de 60% dos profissionais em atividade no Brasil poderão se aposentar. A mudança demográfica que está em curso no país demanda uma nova forma de pensar a carreira na educação. Então, como tornar a profissão atraente para os jovens?
A análise Como melhorar a educação? – conduzida pelo Instituto Alfa e Beto – aponta que o desafio do magistério no Brasil não reside unicamente no currículo dos cursos de formação ou nos salários. O impasse está em como criar novas e atraentes carreiras e como tornar a profissão atraente para os jovens recém-formados.
O que inclui mecanismos para que esse profissional tenha acesso a diferentes maneiras de continuar aprendendo. E aprender é uma demanda clara entre os professores, sobretudo os mais jovens.
Segundo Claudio Sassaki, mestre em Educação pela Stanford University, com mais de 2,2 milhões de docentes no país, a percepção é que a valorização do profissional da educação está em um conjunto de estratégias cujo ponto central é o apoio à formação continuada.
QUALIFICAÇÃO
A pesquisa Profissão Professor – liderada pelo movimento Todos pela Educação com mais de 2 mil professores brasileiros de educação básica e ensino médio, em junho de 2018 –, apontou que 69% dos educadores defendem que dar mais oportunidades de qualificação aos docentes que estão na ativa é a medida mais eficaz para a valorização da profissão pela sociedade.
Apesar de haver outras questões importantes como a valorização salarial do professor, é relevante saber que o professor quer ser visto como um profissional inovador e bem-preparado.
“Quando pensamos em como tornar a profissão atraente para os jovens brasileiros, podemos buscar inspiração em países com reconhecida qualidade na educação. Em algumas nações, os jovens primeiro se formam em um curso superior e, posteriormente, são cooptados para o magistério. Para isso, recebem treinamento específico para ingressar na atividade”, destaca Claudio Sassaki.
Ele continua. “Na prática, existe a criação de novas carreiras dentro do magistério e uma busca ativa por profissionais com o perfil mais adequado. A partir dessa escolha, desenvolve-se formas diferentes de treinar esses futuros professores para a função.
No Chile há 20 anos a carreira é pensada de maneira coordenada: desde a atração de jovens profissionais ao desenho da carreira, eles empreendem, inclusive, políticas para atrair os alunos do ensino médio – com melhor desempenho – para a profissão”, destaca Claudio Sassaki.
MAPA DA APRENDIZAGEM
O Mapa da Aprendizagem – iniciativa da IEDE, Fundação Lemann e Itaú BBA, cuja proposta é fomentar um debate qualificado sobre a atratividade da carreira de docente no Brasil – aponta que o cenário para atrair jovens para a profissão é desafiador.
Em cinco áreas avaliadas pela plataforma que compara as médias de aprendizagem dos estudantes no PISA 2015 (por nível socioeconômico, sexo e carreira pretendida, aos 30 anos, sobretudo o projeto de seguir o magistério ou não), os alunos brasileiros que manifestam a intenção de serem professores têm desempenho inferior aos que querem seguir outras carreiras.
Enquanto 14,5% dos estudantes que querem seguir outras profissões têm desempenho adequado em Matemática, os que seguirão a docência apresentam índice de 6,8%.
Nos países que se destacam pelos sistemas de ensino, a situação é diferente. No Japão, por exemplo, 85% dos alunos que esperam seguir a carreira docente têm desempenho adequado em matemática, contra 80,7% dos que esperam seguir outras profissões.
Os dados não revelam, no entanto, as áreas mais procuradas por esses jovens – uma informação relevante quando avaliamos o desempenho no PISA para os pretendentes de carreira docente em humanas ou exatas, por exemplo.
PEÇA-CHAVE
“Na prática, o país demanda de dados mais aprofundados para termos um repertório mais acurado. Precisamos saber, por exemplo, os motivos desse péssimo desempenho em Matemática e qual seria esse valor em Língua Portuguesa”, observou
Sassaki não tem dúvida que o professor é a peça-chave para a melhoria da qualidade da educação em qualquer país. “Jonah Rockoff, John Friedmane e Raj Chetty, professores da Universidade de Harvard, empreenderam uma pesquisa sobre educação, mobilidade social e desigualdade para investigar qual seria o mecanismo para que crianças vulneráveis possam ter melhores perspectivas na vida adulta. O estudo mostrou que alunos expostos a bons professores na infância e na adolescência, tiveram um aumento na chance de cursar boas universidades e de terem melhores salários.”
Ele finaliza dizendo que as escolas precisam rever os modelos de aprendizagem. “Ao tornar a aprendizagem mais atraente para estudantes, também criamos a oportunidade de fazer o mesmo com a profissão do professor. Na medida que os estudantes de hoje vêem a possibilidade de pensar o processo de aprendizagem à luz das inovações tecnológicas, essa carreira ganha novas cores e desafios. Se o modelo tradicional não traz o engajamento do estudante no processo de aprendizagem, como ele vai engajar a escolha pela docência? Essa é uma questão que devemos responder.”
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