É incrível como nós continuamos a desrespeitar o próximo sem a menor cerimônia. Muitas vezes, enquanto sociedade, nos fechamos no egoísmo, interessando apenas o particular ou o que favorece a poucos. Essa ação já demonstra, há um bom tempo, como estamos nos deteriorando. Independente das leis, códigos ou normas sociais que tentam organizar a convivência na cidade, há um número cada vez maior de moradores à margem de tudo isso.
Essa realidade, que infelizmente assombra, é representada, por exemplo, nos caminhões clandestinos, ou não, que jogam toneladas de resíduos em ruas e terrenos vazios. Mesmo tendo o conhecimento da existência de câmeras, os motoristas retiram as placas dos veículos e dificultam a punição. Ou seja, o cidadão prefere se tornar um criminoso ambiental ao invés de avaliar as consequências posteriores ao seu ato impensado.
O mesmo vale para o lixo orgânico, dispensado por várias pessoas e empresas de qualquer forma. Primeiro porque o acondicionamento não é dos melhores, pois os sacos de má qualidade se rasgam facilmente. Segundo pelo fato de não existir um respeito em relação aos dias e horários de colocar os resíduos na rua ou em lixeiras comuns.
A primeira ideia é a de se ver livre do mau cheiro que contamina a moradia ou local de trabalho. Quando isso acontece, tudo o que se tentou afastar vira um banquete para moscas, baratas e ratos, atraindo doenças para todos ao redor. Entretanto, diante desse fato, volta-se a crítica aos responsáveis pela coleta por não terem recolhido o lixo com maior velocidade.
Os culpados são sempre os outros. Dessa forma, não preciso cuidar da minha calçada ou do terreno vazio que deixei sem muro. Prefiro pensar que, quando a Prefeitura encontrar o problema, ela avisará sobre os riscos. Enquanto isso, muitas vezes tento me eximir de culpa dizendo que, se está lá fora, é público. Quero, enfim, ter as secretarias municipais como tutoras, me dando o respaldo necessário.
Esse péssimo hábito de transferir as responsabilidades se espalha pela cidade. Queremos sempre alguém nos servindo, mesmo não tendo direito. A imagem de que o bairro no qual vivo é uma extensão de minha casa não passa pela cabeça. Com isso, surgem expressões surreais como: “Se existem empresas de limpeza pública, não sou obrigado a fazer a parte dela”.
O pensamento distorcido quer destruir as leis e dividir opiniões. Quando penso em não precisar cumprir a minha parte, jogo na rua embalagens das mais variadas, seja em tipo ou tamanho; copos plásticos, sacolas, papéis, caixas de papelão e de isopor, além de bitucas de cigarro e outros materiais inservíveis. Passo a ser não um colaborador, mas o “dono” da cidade. Depois, reclamo das enchentes, da dengue, da chikungunya, da zika e de outras doenças e acidentes que resultam da falta de educação das pessoas. Já passou da hora de acordarmos para cuidarmos do lugar que queremos viver.
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